Santa Marina da Água Branca

Escudo do Santa Marina da Água Branca

Escudo do Santa Marina da Água Branca

SANTA MARINA ATLÉTICO CLUBE DA ÁGUA BRANCA

Fundação: 15 de agosto de 1913
Uniforme: Camisa e calção azuis com detalhes vermelhos, meias azuis.
Sede social e campo: Avenida Santa Marina, 883, Água Branca, Zona Oeste de São Paulo (SP) – CEP: 05036-000

História

O Santa Marina Atlético Clube é um time amador de origem operária, fundado em 1913 por trabalhadores da antiga Companhia Vidraria Santa Marina. Localizado no bairro da Água Branca, zona oeste de São Paulo, o clube fica numa região de fábricas e possui um grande acervo.

A antiga Estrada da Aterrada do Ó e hoje importante avenida que liga os bairros Freguesia do Ó e Bom Retiro recebeu este nome em homenagem à empresa, em 1911. O clube está localizado no terreno da vidraria Santa Marina, onde hoje funcionam outras empresas.

O presidente do clube é Francisco Ingegnere, mais conhecido como Chiquinho. Parte da história do bairro e da cidade de São Paulo, o Santa Marina é um bom exemplo de equipe de operários que resistiu ao tempo, apesar das dificuldades. No entanto, de acordo com Chiquinho, atualmente o clube
possui um comodato com a empresa dona do terreno cuja duração vai até 2017-2018. “Depois disso, é provável que eles peçam o terreno de volta e o time pode acabar de vez”, alertou.

Equipe do Santa Marina durante festival de 7 de setembro, em 2015 (foto: Acervo/SMAC)

Equipe do Santa Marina durante festival de 7 de setembro, em 2015 (foto: Acervo/SMAC)

Atividades começaram em 1909

O Santa Marina Atlético Clube surgiu nas casas operárias da companhia – de números 443 e 482 – habitadas pela família Grané, onde aconteceu a primeira reunião de moradores e formada a primeira diretoria, que teve como presidente José Bonelli; 1º secretário, Américo Christofani; 2º secretário, Deziderio Amacei; 1º tesoureiro, José de Oliveira; 2º tesoureiro, Antonio Garcia; diretor esportivo, Pedro Grané e auxiliar Júlio Oses.

Chiquinho contou que, na verdade, o clube é de 1909, quando os operários se reuniam para jogar futebol. A vila de operários estava situada onde hoje há um estacionamento do Santa Marina e escritórios da empresa francesa Saint-Gobain (SGB) – a Santa Marina indenizou os funcionários para que eles deixassem a vila.

De Football Club para Atlético Clube

Em um livro sobre a história da companhia, Chiquinho aparece, ainda menino, com uma bola de futebol, chamada Bola Pelé, em uma festa de Natal. Ele leu um resumo que cita a criação do time de futebol.

“Aos 15 de agosto de 1913, na Avenida Santa Marina, número 443, casa 86, casa de Madame Grané, um grupo de amigos funcionários da vidraria Santa Marina, organizados pelo Senhor José Bonelli, deram início a uma das mais grandiosas e bem sucedida aventuras clubísticas deste país. Nascia o Santa Marina Football Club. Nome este que perdurou até 06/08/1977, quando passou a ser Santa Marina Atlético Clube. Nesta vida, (…), começou lá atrás com a sofrida compra de camisas para o time de futebol e mesa de ping-pong e um jogo de dominó, alguns anos depois, não sem a garra da família Marinense, o Santa Marina Atlético Clube começou a jogar futebol no primeiro campo que ficava na Rua Sabaúna, depois mudamos para próximo da vila operária da Santa Marina na Rua Comendador Souza, hoje fábrica da Deca. Já nessa época, o nosso clube se destacava nos gramados da região, com seu time de futebol de campo e salão. Além disso, foi duas vezes campeão municipal e três vezes campeão estadual, formando a seleção paulista de futebol de salão”.

Categorias de base do Santa Marina no Pacaembu - imagem registrada entre 1958 e 1962 pela descrição da 'concha acústica' (foto: Acervo/SMAC)

Categoria de base do Santa Marina no Pacaembu – imagem registrada entre 1958 e 1962 pela descrição da ‘concha acústica’ (foto: Acervo/SMAC)

Nome da santa e cores da França

Entre os fundadores da empresa, havia portugueses e italianos devotos de Santa Marina. A devoção à santa italiana estaria na origem do nome da vidraria. Antonio Prado, membro da família que comandava a companhia, participou da fundação do time. Já suas cores fazem referência à França, país de origem da empresa. “Eu acho que é por isso que as cores do time são vermelho, azul e branco, mas não tenho certeza”, disse Chiquinho.

Santa Marina profissional?

O presidente contou que o Santa Marina jogou durante um ano como time profissional (de 1959 a 1960), no antigo Campeonato da Liga Esportiva de Comércio e Indústria (LECI). Na época, outras grandes equipes lutavam para fazer parte dos principais torneios da cidade, como Legomax, Satúrnia, Matarazzo, Lapeaninho Futebol Clube e Alfa Futebol Clube.

Em 1960, o Santa Marina teria disputado a quarta divisão estadual. Naquele ano, os times foram divididos em quatro chaves, e o Santa Marina acabou na “Série Brasília”, e os outros times do grupo também não disputam o profissionalismo atualmente: Cerâmica de São Caetano do Sul, Rigesa, Volkswagen Clube, Corinthians de Santo André, Itatiba, Esporte Clube São Bernardo, Lapeaninho e Floresta.

O primeiro jogo do time foi no dia 26 de junho de 1960, um domingo, quando perdeu de 7 a 3 para o Floresta de Amparo. O primeiro jogo em casa foi na semana seguinte, em 3 de julho, quando perdeu de 4 a 2 para o Cerâmica. A primeira vitória do time foi jogando no seu próprio estádio no dia 24 de julho, quando ganhou de 2 a 1 do bom e velho Bernô. E após 16 rodadas, o time ficou na última colocação da sua série, com 12 derrotas e apenas 4 vitórias. A equipe marcou 23 gols e sofreu 32, terminando o certame com um saldo negativo de 19 gols.

Um ano depois, o time fez uma excursão para o Rio de Janeiro. Enfrentou o Esporte Clube Anchieta que, após sair perdendo por 3 a 0, teria colocado jogadores profissionais cariocas para tentar a virada sobre o SMAC. Sem sucesso: conseguiram apenas dois gols e o Santa Marina saiu do Rio com uma vitória por 3 a 2 sobre os donos da casa.

Rico acervo

O Santa Marina possui um acervo digno de grandes clubes profissionais. Além de uma impecável sala de troféus e galeria de fotos, vários jornais e fotografias. Em uma reportagem, foi possível encontrar um artigo de jornal cujo título é “Treinou ontem à noite, o selecionado paulista”. No texto, um jornalista narra o treino da Seleção Paulista contra o Santa Marina. A partida aconteceu no estádio do Pacaembu com vitória da Seleção Paulista por 5 a 1. Oberdan fez o gol do Santa Marina. A Seleção Paulista contava com Binoti (arqueiro do Santa Marina); Caieira e Osvaldo; Jango, Brandão e Dino; Ferrari, Servílio, Milani, Nuno e Hércules. O Santa Marina estava escalado com Oberdan; Tite e Bruno; Mario, um jogador desconhecido (cujo nome está ilegível) e Zeca; Calistinho, Arnaldo, Jorge, Leandro e Canhotinho.

Chiquinho também contou que a Sociedade Esportiva Palmeiras da época da Academia treinou no Santa Marina, pois tinha o melhor campo gramado de São Paulo, ainda na Rua Comendador Souza. Em parceria com a empresa Philips, o Palmeiras colocou iluminação para os treinos de jogadores como Ademir da Guia, Dudu, César Maluco, entre outros.

O Santa Marina, ao longo dos anos, também se destacou em outras modalidades além do futebol de campo e de salão. Foi campeão de basquete e boxe, com muitos lutadores formados nas casas operárias. O clube tinha até ringues para treinamento e equipamentos para halterofilismo. O boxe acabou na década de 1960. Já o basquete, o atletismo e o ciclismo aconteceram nas décadas de 1920 e 1930.

Sala de troféus na sede do Santa Marina (foto: Acervo/SMAC)

Sala de troféus na sede do Santa Marina (foto: Acervo/SMAC)

Principais conquistas

Para Chiquinho, um dos principais títulos conquistados pelo Santa Marina foi a Taça do Estado de São Paulo. No entanto, contou que muitos troféus antigos foram perdidos ao longo dos anos. Um dos mais antigos que ainda guarda é o de 1932. A maioria dos troféus da década de 1960 era de bronze.

Grandes rivais

Os principais rivais do Santa Marina ao longo da história, na região de Cruz das Almas e Morro Grande, foram Corinthians da Vila Palmeiras, Alvorada, Santa Cecília, Cometa Brasil Unido, Lapeaninho, Venda Sopave, Sete de Setembro da Freguesia, Ás de Ouro da Freguesia do Ó, Estádio Novo, Paulistano e Açucena.

Campos e estrutura atual

O primeiro campo do time foi na Rua Sabaúna, depois passou pela Rua Comendador Souza, onde hoje é a empresa da Deca, empresa de louças e metais sanitários. O Santa Marina levou o time para dentro da área da empresa, perto do antigo forno 12. O atual campo, localizado na sede da Avenida Santa Marina, é o quarto da história e está no mesmo local desde 1949.

O Santa Marina também usou o Campo do Nacional Atlético Clube por dois anos e nos aniversários faziam um desfile até o local. O Santa Marina atualmente possui um campo de futebol com grama e terra batida, alambrados. Não há postes de iluminação. Ao lado do campo há uma sala que Chiquinho chama de “Sala da Bagunça”, com equipamentos para a marcação de cal e outras ferramentas. Existe também uma quadra para futsal e vôlei.

O estacionamento tem capacidade para cerca de 50 carros. Há ainda uma lanchonete, sete vestiários – um para árbitros e o restante para alunos, professores e fardamentos do time –, uma sala de professor, um escritório com computador e uma sala de troféus denominada Pedro Tastaude, jogador do Palmeiras e veterano do Santa Marina ao lado do goleiro Oberdan. “Ele era um cara muito social. Gostava de organizar festas”, lembrou Chiquinho.

Há ainda uma grande sala de fotos para visitantes, com imagens cuidadosamente enquadradas e creditadas, bem como mesas de sinuca e pebolim. Além de uma lavanderia, que era a continuação da sala de troféus. Esta lavanderia é usada por uma senhora que recebe um salário mínimo para lavar os uniformes do time.

Do lado de fora, há uma área com churrasqueira e mesas para jogar baralho. Neste pátio, existe uma capela com imagens de Santa Marina (confeccionada no Rio de Janeiro), de Nossa Senhora de Aparecida, Santa Rita (padroeira de Chiquinho) e uma grande cruz com Jesus Cristo, usada em romarias na vila. “Essa cruz ficou dentro da empresa no setor da manutenção, escondida. Cheia de poeira. Eu trouxe ela no carrinho, estava jogada e pus aqui”, contou Chiquinho.

Impecável quadros de fotos na Sala de troféus do Santa Marina (foto: Acervo/SMAC)

Impecável quadros de fotos na Sala de troféus do Santa Marina (foto: Acervo/SMAC)

Futuro incerto

Chiquinho contou também que após a secretaria ser assaltada (sem mencionar detalhes do episódio), ele providenciou três cachorros de guarda que ficam em um canil improvisado dentro do clube. Chiquinho afirmou que há anos o Santa Marina vem resistindo às mudanças no terreno da firma. Ele mostrou fotos com as demolições mais recentes de obras realizadas na sede e que depois foram perdidas. Segundo o entrevistado, até década de 1980, o time de futebol tinha mais apoio da empresa. Em 1990, ele foi mandado embora da empresa por discutir com os diretores, que cortaram a água e a luz da sede do clube.

Numa época, a empresa Saint-Gobain – que comprou a Santa Marina – pediu que o time de futebol retirasse de seus uniformes os escudos do Santa Marina. Alguns deles foram encontrados pelo chão da empresa. Depois, os diretores deram fardamentos da Saint-Gobain aos jogadores que tiveram de jogar com as novas camisas.

De acordo com o documento de ocupação, o Santa Marina tem de 5 a 6 anos para usufruir da condição de comodato.  O Santa Marina tem escolas de futebol de campo e futsal infantis organizadas em turmas de 5 a 16 anos. As crianças pagam R$ 30,00 (metade fica com o professor, metade com o clube). Aos sábados, a quadra é alugada para três clientes. Já o campo possui apenas um inquilino, um time de amigos que joga entre si.

Uma das principais fontes de renda do time é o estacionamento, já que mantém uma parceria com profissionais e alunos da Universidade Paulista (Unip), que pediram para guardar o carro no local. Os gastos giram em torno de R$ 8.000,00 a R$ 10.000,00 por mês. Chiquinho conta ainda que recebe R$ 850,00 da empresa e R$ 500,00 de cesta básica, que ele cede a um de seus funcionários.

Francisco revelou que quer parar de administrar o clube pela sua idade avançada. “Mas ninguém se interessa em cuidar daqui. Eu estou preocupado depois que eu parar”, disse, referindo-se ao cuidado com o acervo.

Chiquinho, à esquerda, durante as festividades do centenário do Santa Marina, em 2013 (foto: Acervo/SMAC)

Chiquinho, à direita, durante as festividades do centenário do Santa Marina, em 2013 (foto: Acervo/SMAC)

Revelações

Entre as revelações que despontaram no Santa Marina estão alguns membros da família do Pavão, como Reinaldo, Flavinho (Palmeiras e Nacional Atlético Clube) e Henrique Passos (Nacional, Associação Esportiva Guaratinguetá). Haroldo (São Paulo Futebol Clube), que marcou um gol numa partida contra o Santos Futebol Clube de Pelé, é outro nome conhecido.

Da família Taddei, há Rodrigo que jogou no Palmeiras, no Sete de Setembro da Freguesia do Ó, e hoje está na Europa, defendendo a Associazione Sportiva Roma, da Itália. Outros nomes que estiveram no time em uma fase que o clube tinha doze categorias de infantil são Jorge Preá (Grêmio Barueri), Boquita (Associação Portuguesa de Desportos) e Lulinha (ex-Sport Clube Corinthians Paulista e atualmente no Esporte Clube Bahia).

Da vila de operários dois jogadores migraram para o futebol profissional. Um deles foi João Pilli, seis vezes campeão pelo Palmeiras. Outro foi Airton, que Chiquinho disse ter sido o rei do futebol de salão muito antes de Falcão (jogador da Seleção Brasileira de futsal).

Fontes: CRFB-Museu do Futebol/Blog Jogos Perdidos/Freguesia News

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